Que heroínas nós somos às vezes! E que covardes! Serão estas eternas e fundas contradições o que faz da nossa alma o farrapo que se torce, que se suja e que se rasga?... Esmagam-nos e nós rimos; fazem-nos desgraçadas, e nós cantamos! Mas que risos... mas que canções! Risos que são lágrimas, canções que são soluços... e os olhos húmidos são para o mundo olhos que falam de amor, e as bocas contraídas são para todos, bocas que riem às gragalhadas! E assim se escreve a história... e assim decorre a vida... Deve ser tão bom ser alegre, ser feliz, não é verdade? Ter a alma quente como o estofo de um ninho, ser pequenino em tudo até nos desejos, que bom deve ser, não deve? Os corações pequeninos, os modestos, são sempre tão bondosos, tão quentes! O meu anda à solta, tão grande, tão ambicioso, tem sempre frio, está sempre só... Ninguém sabe andar com ele!
Florbela Espanca
Florbela Espanca