segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Último Hotel


Prefácio

Numa tarde pachorrenta, estando eu entregue ao tédio, a minha imaginação, aparentemente aborrecida por ser ignorada, tirou férias – e nunca mais voltou. Tinha perdido aquilo a que o poeta Wordsworth chamava o “olho interior”. Ou o perdi, ou ficou esquecido algures no mundo natural.
Que havia eu, um artista, de fazer? Como havia eu de trabalhar, de pintar, de viver!
Tentei agarrar-me a uns fiapos de memória, mas não eram suficientes.
A memória é um chapéu velho; a imaginação é um par de sapatos novos. Tendo perdido os sapatos novos, que resta fazer senão partir à sua procura?

Roberto Innocenti, J. Patrick Lewis

domingo, 30 de novembro de 2008

Inventário

Um dente d'ouro a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um polícia que diz que garante

A costureira muito desgraçada
Uma máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno

Um revolver já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria

Um conde que cora ao ser condecorado
Um homem que ri de tristeza
Um amante perdido encontrado
Um gafanhoto chamado surpresa

O desertor cantando no coreto
Um malandrão que vem pé-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perde a fé

Um sujeito enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de fato perigosos
Um instantinho de beleza

Um octogenário divertido
Um menino coleccionando estampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas

Alexandre O'Neill

El poeta pide a su amor que le escriba


Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal. La piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena pues de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.

Frederico García Lorca

sábado, 29 de novembro de 2008

Análise

Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que o sonho o que me sinto sendo.

Fernando Pessoa

domingo, 23 de novembro de 2008

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morrer tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

Ricardo Reis

O Jogo do Anjo

Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio a troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobreviverá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço.

Carlos Ruiz Zafón

sábado, 15 de novembro de 2008

Dos Gardenias


Dos gardenias para ti
Con ellas quiero decir

Te quiero, te adoro, mi vida

Ponles toda tu atención
Porque son tu corazón y el mío .

Dos gardenias para ti

Que tendrán todo el calor de un beso

De esos besos que te di

Y que jamás encontrarás

En el calor de otro querer
.

A tu lado vivirán y se hablarán

Como cuando estás conmigo

Y hasta creerás que te dirán

Te quiero
.

Pero si un atardecer

Las gardenias de mi amor se mueren

Es porque han adivinado

Que tu amor me ha traicionado

Porque existe otro querer
.

Maria Rita

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Soneto da Fidelidade


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei-de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.


E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Hurt


I hurt myself today,
to see if I still feel,
I focus on the pain,
the only thing thats real

The needle tears a hole,
the old familiar sting,
try to kill it all away,
but I remember everything

What have I become,
my sweetest friend,
everyone i know,
goes away in the end

And you could have it all,
my empire of dirt,
I will let you down,
I will make you hurt

I wear this crown of thorns,
upon my liars chair,
full of broken thoughts,
I cannot repair

Beneath the stains of time,
the feelings dissapear,
you are someone else,
I am still right here

What have I become,
my sweetest friend,
everyone I know,
goes away in the end

And you could have it all,
my empire of dirt,
I will let you down,
I will make you hurt

If I could start again,
a million miles away,
I will keep myself,
I would find a way

Johnny Cash

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cântico Negro


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sweet Dreams

Sweet dreams are made of this
Who am I to disagree?
Travel the world and the seven seas
Everybody's looking for something
Some of them want to use you
Some of them want to get used by you
Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused
.
Sweet dreams are made of this
Who am I to disagree?
Travel the world and the seven seas
Everybody's looking for something
Some of them want to use you
Some of them want to get used by you
Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused
.
I wanna use you and abuse you
I wanna know what's inside you
(Whispering) Hold your head up, movin' on
Keep your head up, movin' on
Hold your head up, movin' on
Keep your head up, movin' on
Hold your head up, movin' on
Keep your head up, movin' on
Movin' on!
.
Sweet dreams are made of this
Who am I to disagree?
Travel the world and the seven seas
Everybody's looking for something
Some of them want to use you
Some of them want to get used by you
Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused
.
I'm gonna use you and abuse you
I'm gonna know what's inside
Gonna use you and abuse you
I'm gonna know what's inside you
.
Marilyn Manson

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Dia Mau

Não quis guardá-lo para mim
E com a dimensão da dor
Legitimar o fim
Eu dei
Mas foi para mostrar
Não havendo amor de volta
Nada impede a fonte de secar
Mas tanto pior
E quem sou eu para te ensinar agora
A ver o lado claro de um dia mau

Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói
Mas vê bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia
E então rapaz então porquê a raiva
Se a culpa não é minha
Serão efeitos secundários da poesia


Mas para quê gastar o meu tempo

A ver se aperto a tua mão
Eu tenho andado a pensar em nós
que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão

É só mais um dia mau

Ornatos Violeta

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Dance Me To The End Of Love



Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Oh let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Leonard Cohen

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

The killing moon


Under blue moon I saw you
So soon you’ll take me

Up in your arms

Too late to beg you or cancel it

Though I know it must be the killing time

Unwillingly mine

Fate
Up against your will

Through the thick and thin

He will wait until

You give yourself to him

In starlit nights I saw you
So cruelly you kissed me

Your lips a magic world

Your sky all hung with jewels

The killing moon

Will come too soon

Fate
Up against your will

Through the thick and thin

He will wait until

You give yourself to him

Under blue moon I saw you
So soon you’ll take me

Up in your arms

Too late to beg you or cancel it

Though I know it must be the killing time

Unwillingly mine

Unwillingly mine


Nouvelle Vague

sábado, 25 de outubro de 2008

A Invenção do Amor


Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-
relhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor


Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
quotidiana


Um homem e uma mulher que tinham os olhos e coração e
fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado


Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

(...)

Daniel Filipe

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Manhattan Skyline


We sit and watch umbrellas fly
I'm trying to keep my newspaper dry
I hear myself say,
"My boat's leaving now"
...so we shake hands and cry
Now I must wave goodbye
Wave goodbye

You know
I don't want to cry again
I'll never see your face again
I don't want to cry again

We leave to their goodbyes
I've come to depend on the look in
their eyes
My blood's sweet for pain
The wind and the rain brings back
words of a song
And they say wave goodbye
Wave goodbye

You know
I don't want to cry again
I'll never see your face again
I don't want to cry again

...So I read to myself
A chance of a lifetime to see new horizons
On the front page
A black and white picture of
Manhattan Skyline


Kings of Convenience

sábado, 18 de outubro de 2008

Tisanas


12 Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o próximo ou então ter muito cuidado com o que se come (sic!).

72
Era uma vez uma ausência que andava em missão de viagem. Quando chegava a uma encruzilhada dava três voltas sobre si própria para perder por completo a noção do caminho por onde viera atingindo assim com regularidade as regiões efémeras do esquecimento. Depois regressava a casa.

80
Era uma vez uma história tão impressionante que quando alguém a lia o livro começava a transpirar pelas folhas. Se o leitor fosse muito bom o livro soltava mesmo algumas pequeninas gotas redondas de sangue.

235
Acordo de manhã cedo. A maçã da noite corre para a maçã do dia entre os dentes do espaço. Olho a formação das nuvens. O ser humano projecta para fora de si o que é excesso. O tempo faz o resto.

268
Tinha havido uma revolução. No viaduto as letras tinham saído dos livros e lançadas com ardor sobre a cidade a água desaparecera. Não podendo já distinguir entre o rio e a estrada as letras tinham invadido a cidade outra vez e tantas eram que a terra saltava e então compreendeu-se que se tratava de um letramoto e as pessoas apavoradas queriam fugir para o campo mas nas auto-estradas tantas eram as letras que já ninguém conseguia saber para onde iam ou onde mudava a direcção e atropelando-se as pessoas enterravam-se em tinta procurando desesperadamente lembrar-se

307
É uma leoa com cabeça de leão com juba preta. Rara como safira negra, pura e dura. A imaginação é esse delírio: tulipa negra com sapatos de ténis.

349
Quando eu era criança gostava muito e olhar as nuvens. Havia umas redondinhas muito luminosas que se amontoavam por vastas áreas do azul do céu que os meus olhos percorriam encantados. Uma vez perguntei: o que é aquilo? São os anjinhos, responderam-me. E eu acreditei porque era verdade.

Ana Hatherly


domingo, 12 de outubro de 2008

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

Ricardo Reis

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tainted Love

Sometimes I feel I've got to
Run away I've got to
Get away
From the pain that you drive into the heart of me
The love we share
Seems to go nowhere
And I've lost my light
For I toss and turn I can't sleep at night

Once I ran to you
Now I'll run from you
This tainted love you've given
I give you all a boy could give you
Take my tears and that's not nearly all
Oh...tainted love
Tainted love

Now I know I've got to
Run away I've got to
Get away
You don't really want it any more from me
To make things right
You need someone to hold you tight
And you'll think love is to pray
But I'm sorry I don't pray that way

Don't touch me please
I cannot stand the way you tease
I love you though you hurt me so
Now I'm going to pack my things and go
Tainted love, tainted love
Touch me baby, tainted love
Tainted love

Soft Cell

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mistério


O mistério começa do joelho para cima.
O mistério começa do umbigo para baixo
E nunca acaba.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Valsinha

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
.
Então ela se fez bonita com há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois o dois deram-se os braços com há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
.
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
.
Vinicius de Moraes/Chico Buarque

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória…
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?


Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes
Mas passam sem que o seu passo seja leve.


Começo a ler, mas cansa-me o que ainda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Álvaro de Campos

Dorme enquanto eu velo…
Deixa-me sonhar…
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.


A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.


Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir…
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

Fernando Pessoa

domingo, 31 de agosto de 2008

Eu tenho um fraquinho por ti

Eu tenho um fraquinho por ti
tu não me dás atenção
tu não me passas cartão
quando me ponho a teu lado
tremo nervoso de agrado
e meto os pés pelas mãos
tu vais gozando um bocado
a beber vinho tostão
eu com o discurso engasgado
fico a um canto, que arrelia
de toda a cervejaria
onde vais rasgar a noite
se te olho com ternura
olhas-me do alto da burra
que mais parece um açoite
é um susto um arrepio
que me malha em ferro frio.

Eu tenho um fraquinho por ti
que me vai de lés a lés
tu dás-me sempre com os pés
quando me atiro enamorado
num estilo desajeitado
disfarço em bagaço e café
tu fumas o teu cruzado
e fazes troça, pois é,
já tenho o caldo entornado
esqueces-me da noite p´ro dia
em alegre companhia
de batidas e rodadas
tu ficas nas sete quintas
marimbas, estás-te nas tintas
p´ra que eu ande às três pancadas
basta um toque sedutor
eu cá sou um pinga-amor.

Eu tenho um fraquinho por ti
que me abrasa o coração
quase me arrasa a razão
a tua risada rasteira
põe-me de rastos, à beira
do enfarte da congestão
encharco-me em chá de cidreira
mofas de mim atiras-te ao chão
zombando à tua maneira
lá fazes a despedida
ao grupo que vai de saída
dos amigos da Trindade
mas no fim da noite, à noitinha,
tu ficas triste e sozinha
à procura de amizade
e como é costume teu
chamas o parvo que sou eu.

Afino uma voz de tenor
ensaio um ar duro de macho
quando estás na mó de baixo
quero ver-te arrependida
mas numa manobra atrevida
rufia, muito mansinha,
dás-me um beijo e uma turrinha
que me põe num molho num cacho
estremeço com pele de galinha
e gosto de ti trapaceira
da tua piada certeira
do teu aparte final
do teu jeito irreverente
do teu aspecto contente
do teu modo bestial
noutra palavra mais quente
eu tenho um fraquinho por ti.

Fausto

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mulheres de Preto


Há muito que são velhas, vestidas
de preto até à alma.
Contra o muro
defendem-se do sol de pedra;
ao lume
furtam-se ao frio do mundo.
Ainda têm nome? Ninguém
pergunta, ninguém responde.
A língua, pedra também.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Falta



Eu quero brincar à escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me nos degraus enquanto tu tomas banho e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e segurar na tua mão e ir comer uma refeição e não me importar se tu comes a minha comida e encontrar-me contigo no Rudy e falar sobre o dia e passar à máquina as tuas cartas e carregar as tuas caixas e rir da tua paranóia e dar-te cassetes que tu não ouves e ver filmes óptimos, ver filmes horríveis e queixar-me da rádio e tirar-te fotografias a dormir e levantar-me para te ir buscar café e brioches e folhados e ir ao Florent beber café à meia-noite e tu a roubares-me os cigarros e nunca conseguir achar sequer um fósforo e falar-te sobre o programa de televisão que vi na noite anterior e levar-te ao oftalmologista e não rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um bocado e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do teu cabelo dos teus olhos dos teus lábios do teu pescoço dos teus peitos do teu rabo do teu


e sentar-me nos degraus a fumar até o teu vizinho chegar a casa e se sentar nos degraus a fumar até tu chegares a casa e preocupar-me quando estás atrasada e ficar surpreendido quando chegas cedo e dar-te girassóis e ir à tua festa e dançar até ficar todo negro e pedir desculpa quando estou errado e ficar feliz quando me desculpas e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustado quando estás zangada e um dos teus olhos vermelho e o outro azul e o teu cabelo para a esquerda e o teu rosto para oriente e dizer-te que és lindíssima e abraçar-te quando estás ansiosa e amparar-te quando estás magoada e querer-te quando te cheiro e ofender-te quando te toco e choramingar quando estou ao pé de ti e choramingar quando não estou e babar-me para o teu peito e cobrir-te à noite e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes e derreter-me quando sorris e desintegrar-me quando te ris e não compreender por que é que pensas que eu te estou a deixar quando eu não te estou a deixar e pensar como é que tu podes achar que eu alguma vez te podia deixar e pensar em quem tu és mas aceitar-te na mesma e contar-te sobre o rapaz da floresta encantada de árvores anjo que voou por cima do oceano porque te amava e escrever-te poemas e pensar porque é que tu não acreditas em mim e ter um sentimento tão profundo que para ele não existem palavras e querer comprar-te um gatinho do qual teria ciúmes porque teria mais atenção que eu e atrasar-te na cama quando tens de ir e chorar como um bebé quando finalmente vais e ver-me livre das baratas e comprar-te prendas que tu não queres e levá-las de volta outra vez e pedir-te em casamento e tu dizeres não outra vez mas eu continuar a pedir-te porque embora tu penses que eu não estou a falar a sério eu estou mesmo a falar a sério desde a primeira vez que te pedi e vaguear pela cidade pensando que ela está vazia sem ti e querer aquilo que queres e achar que me estou a perder mas saber que estou seguro contigo e contar-te o pior que há em mim e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero e tentar ser honesto porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas ficar agarrado a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida e esquecer-me de quem eu sou e tentar chegar mais perto de ti porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço e falar mau alemão contigo e pior ainda em hebreu e fazer amor contigo às três da manhã e de alguma maneira de alguma maneira de alguma maneira transmitir algum do esmagador, irresistível, incondicional, abrangente, preenchedor, desafiante, contínuo e infindável amor que tenho por ti.

Sarah Kane

A Rapariga que Inventou um Sonho


Quando fechei os olhos, senti o cheiro do vento. Uma aragem de Maio, inchada como uma peça de fruta, com a parte de fora áspera e o interior doce e carnudo, a rebentar de sementes. A polpa aberta e escancarada aos elementos da natureza, libertando as suas sementes de encontro à pele nua dos meus braços e deixando ficar no ar um ténue rasto de dor.

Haruki Murakami

sábado, 16 de agosto de 2008

O Primeiro Dia


A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vem cansaços e o corpo fraqueja
molha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Entretanto o tempo fez cinza da brasa
outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Sérgio Godinho

quinta-feira, 24 de julho de 2008


não me digas não, não me podes dizer não, é um alívio amar outra vez e deitar-me na cama a ser abraçado e beijado e adorado e o teu coração saltará quando ouvir a minha voz vir o meu sorriso sentir a minha respiração no teu pescoço e o teu coração baterá quando eu te quiser ver e minto-te desde o primeiro dia e uso-te e fodo-te e depedaço-te o coração porque antes tu depedaçaste o meu e amas-me cada vez mais e um dia tudo fica pesado de mais e a tua vida é minha e morrerás sozinha porque eu ficarei com o que quiser e depois vou-me embora sem te ficar a dever nada está sempre ali esteve sempre ali e tu não podes negar a vida que sentes que se foda essa vida que se foda essa vida que se foda essa vida agora perdi-te

Sarah Kane

sábado, 12 de julho de 2008

Silent Worship


Did you not hear My Lady
Go down the garden singing

Blackbird an thrus were silent

To hear the alleys ringing

Oh saw you not My Lady
Out in the garden there
Shaming the rose and li
ly

For she is twice as fair.


Though I am nothing to her

Though she must rerely look at me

And though I could never woo her

I love her till I die
.
Surely you heard My Lady

Go down the garden singing

Silencing all the songbirds

And setting the alleys ringing

.
But surely you see My Lady

Out in the garden there
Rivaling the glittering sunshine

With a glory of golden hair

.
Adaptação da Ária "Non lo diro col labbro", de G. F. Handel, para o filme Emma

domingo, 6 de julho de 2008

Golden Brown


Golden brown texture like sun
Lays me down with my mind she runs
Throughout the night
No need to fight
Never a frown with golden brown

Every time just like the last
On her ship tied to the mast
To distant lands
Takes both my hands
Never a frown with golden brown

Golden brown finer temptress
Through the ages she's heading

West
From far away
Stays for a day
Never a frown with golden brown

Never a frown
With golden brown

Never a frown
With golden brown

The Stranglers

domingo, 29 de junho de 2008

Mein Herr

You have to understand the way I am,
Mein Herr.
A tiger is a tiger, not a lamb.
Mein Herr.
You'll never turn the vinegar to jam,
Mein Herr.
So I do...
What I do...
When I'm through...
Then I'm through...
And I'm through...
Toodle-oo!
Bye-Bye, Mein Lieber Herr.
Farewell, Mein Lieber Herr.
It was a fine affair,
But now it's over.
And though I used to care,
I need the open air.
You're better off without me,
Mein Herr.

Don't dab your eye, Mein Herr,
Or wonder why, Mein Herr.
I've always told you I was a rover.
You mustn't knit your brow,
You should have known by now
You'd every cause to doubt me,
Mein, Herr.

The continent of Europe is so wide,.
Mein Herr.
Not only up and down, but side to side,
Mein Herr.
I couldn't ever cross it if I tried,
Mein Herr.
So I do...
What I can...
Inch by inch...
Step by step...
Mile by mile...
Man by man.

Bye-Bye, Mein Lieber Herr.
Farewell, Mein Lieber Herr.
It was a fine affair,
But now it's over.
And though I used to care,
I need the open air.
Ypu're better off without me,
Mein Herr.

Don't dab your eye, Mein Herr,.
Or wonder why, Mein Herr.
I've always told you I was a rover.
You mustn't knit your brow,
You should have known by now
You'd every cause to doubt me,
Mein, Herr.

Bye-Bye, MEin Lieber Herr,
Auf wiedersehen, Mein Herr.
Es war sehr gut, Mein Herr
Und vorbei.
Du kennst mich wohl, Mein Herr,
Ach, lebe wohl, Mein Herr.
Du sollst mich nicht mehr sehen,
Mein Herr.

.
Cabaret

Canção de Engate


Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estás só e eu mais só estou
E tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada

António Variações

Poor Jack

What have I done?
What have I done?
How could I be so blind?
All is lost, where was I?
Spoiled all, spoiled all
Everything's gone all wrong

What have I done?
What have I done?
Find a deep cave to hide in
In a million years they'll find me
Only dust and a plaque
That reads, "Here Lies Poor Old Jack"

But I never intended all this madness, never
And nobody really understood, how could they?
That all I ever wanted was to bring them something great
Why does nothing ever turn out like it should?

Well, what the heck, I went and did my best
And, by God, I really tasted something swell
And for a moment, why, I even touched the sky
And at least I left some stories they can tell, I did

And for the first time since I can't remember when
I felt just like my old bony self again
(...)

.
Danny Elfman

sábado, 28 de junho de 2008

D. Sebastião, Rei de Portugal


Louco, sim louco, porque quis grandeza
Qual a sorte a não dá.
Não coube em minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha Loucura, outros que a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que besta sadia,
Cadáver adiado procria?

Fernando Pessoa - A Mensagem

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Todo carnaval tem seu fim


Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas
o dia insiste em nascer
Pra
ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Los Hermanos

Canção Simples

Há qualquer coisa de leve na tua mão,
Qualquer coisa que aquece o coração
Há qualquer coisa quente quando estás,
Qualquer coisa que prende e nos desfaz

Fazes muito mais que o sol
(...)

A forma dos teus braços sobre os meus,
O tempo dos meus olhos sobre os teus
Desço nos teus ombros para provar
Tudo o que pediste para levar

Fazes muito mais que o sol
(...)

Tens os raios fortes a queimar
Todo o gelo frio que construí
Entras no meu sangue devagar
E eu a transbordar dentro de ti

Tens os raios brancos como um rio,
Sou quem sai do escuro para te ver,
Tens os raios puros no luar,
Sou quem grita fundo para te ter

Fazes muito mais que o sol
(...)

Quero ver as cores que tu vês
Para saber a dança que tu és
Quero ser do vento que te faz
Quero ser do espaço onde estás

Deixa ser tão leve a tua mão,
Para ser tão simples a canção
Deixa ser das flores o respirar
Para ser mais fácil te encontrar

Fazes muito mais que o sol
(...)

Vem quebrar o medo, vem
Saber se há depois
E sentir que somos dois,
Mas que juntos somos mais

Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor
Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor


Tiago Bettencourt


terça-feira, 24 de junho de 2008

Take This Waltz


Now in Vienna there's ten pretty women
There's a shoulder where Death comes to cry
There's a lobby with nine hundred windows
There's a tree where the doves go to die
There's a piece that was torn from the morning
And it hangs in the Gallery of Frost
.
Ay, Ay, Ay, Ay
Take this waltz, take this waltz
Take this waltz with the clamp on its jaws
.
Oh I want you, I want you, I want you
On a chair with a dead magazine
In the cave at the tip of the lily
In some hallways where love's never been
On a bed where the moon has been sweating
In a cry filled with footsteps and sand
.
Ay, Ay, Ay, Ay
Take this waltz, take this waltz
Take its broken waist in your hand

.
This waltz, this waltz, this waltz, this waltz

With its very own breath of brandy and Death

Dragging its tail in the sea

.
There's a concert hall in Vienna

Where your mouth had a thousand reviews
There's a bar where the boys have stopped talking
They've been sentenced to death by the blues

Ah, but who is it climbs to your picture
With a garland of freshly cut tears?
.
Ay, Ay, Ay, Ay

Take this waltz, take this waltz
Take this waltz it's been dying for years
.
There's an attic where children are playing
Where I've got to lie down with you soon

In a dream of Hungarian lanterns

In the mist of some sweet afternoon

And I'll see what you've chained to your sorrow

All your sheep and your lilies of snow

.
Ay, Ay, Ay, Ay

Take this waltz, take this waltz
With its "I'll never forget you, you know!"
.
And I'll dance with you in Vienna
I'll be wearing a river's disguise

The hyacinth wild on my shoulder,
My mouth on the dew of your thighs
And I'll bury my soul in a scrapbook,

With the photographs there, and the moss

And I'll yield to the flood of your beauty
My cheap violin and my cross
And you'll carry me down on your dancing

To the pools that you lift on your wrist

.
Oh my love,
Oh my love

Take this waltz, take this waltz
It's yours now. It's all that there is.
.
Leonard Cohen

segunda-feira, 23 de junho de 2008

My dearest friend, if you don't mind
I'd like to join you by your side
Where we can gaze into the stars

And sit together, now and forever

For it is plain as anyone can see
We're simply meant to be

Danny Elfman - The Nightmare Before Christmas

Capitão Romance

Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar
Parto rumo à primavera
Que em meu fundo se escondeu
Esqueço tudo do que eu sou capaz
Hoje o mar sou eu
Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer
Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do
que em mim tocou
.
Eu vi
Mas não agarrei
.
Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver pra vir
Se eu encontrar uma ilha
Paro pra sentir
E dar sentido à viagem
Pra sentir que eu sou capaz
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz
.
Eu
vi
Mas não agarrei

.
Ornatos Violeta

II



Na sombra Cleópatra jaz morta.
Chove.

Embandeiraram o barco de maneira errada.
Chove sempre.

Para que olhas tu a cidade longínqua?
Tua alma é a cidade longínqua.
Chove friamente.

E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto –
Todos nós embalamos ao colo um filho morto.
Chove, Chove.

O sorriso triste que sobra a teus lábios cansados,
Vejo-o no gesto com que os teus dedos não deixam os teus anéis.
Porque é que chove?

Fernando Pessoa

Marta

Marta não quer chorar
Guarda nela sem ter razão

As negras ondas do mar

Tentem ver no cordão

Que vos une à razão

Quão pior é morrer devagar
..

Marta não quer chorar
Mas seus olhos vertem a dor

De morrer para não matar
É que a vida são
Canções de épicos refrões
Que farão o mar fluir
Só que um dia vão ter de acabar
.
Esta é só mais uma canção

Não lhe fiz um refrão
Porque Marta já está a chorar
.
Ornatos Violeta

domingo, 22 de junho de 2008

Como vai você

Como vai você?
Eu preciso saber da sua vida
Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber

Como vai você?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você

Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz

Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu preciso
saber
Como vai você

Roberto Carlos

Suor e Fantasia


Seis da tarde
E já está sol lá fora
Fico só mais meia hora
Numa pétala de sono insolente
Os teus pés ainda dançam
Vão andando assim tão delicados
Pelo dia adolescente
Dedo a dedo doces

Ai, a graça do amor!
Já não vou trabalhar...

As tuas olheiras de cansaço
Dão um traço bem preciso
Ao sorriso que preenche
Todo o vasto espaço

Ai, a graça do amor!
Já não vou trabalhar...

Todo o dia e toda a noite
Só suor e fantasia
Quem julga que é fácil
Que experimente levitar sobre o Tejo

A vida é difícil
Sempre foi

Meia-noite e café da manhã
Esse teu rosto é o meu dilema
E vestimo-nos à pressa
Para ir ao cinema

Ai a graça do amor!
Já não vou trabalhar...

Todo o dia e toda a noite
Só suor e fantasia
Quem julga que é fácil
Que experimente levitar sobre o Tejo

A vida é difícil
Sempre foi.

Quinteto Tati

Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

Eugénio de Andrade

sábado, 21 de junho de 2008

Chega De Saudade


Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
.
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
.
Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
.
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
.
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim
.

Toquinho/Vinicius de Moraes

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Cada Vez Mais Aqui


Queres lutar com quem?
Para doer aonde?
Para ser o quê?
Achas que ninguém vê?...

E para quê fingir?
Porquê mentir?
E remar na dor?
Achas que ninguém vê?...

Também eu queria parar...
chorar...cair...
para me levantar, para te puxar!
Te fazer sorrir, não voltar a cair!...

Não me olhes assim,
continuo a ser quem fui!
Cada vez mais aqui...
Não dances tão longe,
que eu já te vi...

Também eu queria parar...
chorar....cair....
para me levantar, para te puxar!
Te fazer sorrir, não voltar a cair!...

Toranja

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Losing A Battle, Winning A War


Even though I'll never need her
Even though she's only giving me pain
I'll be on my knees to feed her
Spend a day to make her smile again
.
Even though I'll never need her
Even though she's only giving me pain
As the world is soft around her
Leaving me with nothing to disdain
.
Even though I'm not her minder
Even though she doesn't want me around
I am on my feet to find her
To make sure that she is safe and sound
.
Even though I'm not her minder
Even though she doesn't want me around
I am on my feet to find her
To make sure that she is safe from harm
.
The sun sets on the war
The day breaks and everything is new
.
Kings of Convenience